RESUMO
A
produção de
alimentos envolve
inúmeras reações químicas, durante as quais podem ser geradas substâncias tóxicas ao organismo
humano.
A produção destas substâncias pode ocorrer de diferentes maneiras,
variando em quantidade e em grau de toxicidade. Este trabalho objetivou
estudar a produção de toxinas no processamento de alimentos, assim como
as conseqüências da ingestão dessas substâncias para o ser humano. O
estudo foi realizado a partir de extensa pesquisa bibliográfica. As
principais reações na formação de compostos tóxicos apresentadas no
decorrer do estudo são: degradação de lipídios, hidrogenação, pirólise e
defumação. Entre as substâncias formadas, destacam-se: peróxidos,
ácidos graxos
trans, aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos. O profissional nutricionista necessita conhecer
como ocorre a formação de toxinas durante os variados processamentos
que envolvem alimentos, assim como os riscos para a saúde de quem
consome essas substâncias. Também é preciso propor técnicas de
processamento adequadas, visando ao bem-estar do consumidor e à
manutenção das propriedades nutricionais do alimento.
Termos de indexação: Nutricionista. Produção de alimentos. Reações químicas. Substâncias tóxicas.
INTRODUÇÃO
A
produção de alimentos envolve inúmeras reações químicas, dentre as
quais muitas ainda são desconhecidas. Mesmo assim, sabe-se que, durante
tais reações, substâncias tóxicas ao organismo humano podem ser formadas
ou podem ter sua toxicidade intensificada, de modo que se torna
indispensável atentar para a relação entre o consumo dessas substâncias
por longos períodos e o desenvolvimento de neoplasias que acometeram
cerca de 10 400 000 norte-americanos em 20021.
Com
o objetivo de conhecer a formação de toxinas na produção de alimentos,
assim como de oferecer um alimento nutritivo que não traga riscos ao
comensal, optou-se por pesquisar a influência do processamento de
alimentos na formação de substâncias tóxicas, observando-se também os
efeitos do consumo destas substâncias para o organismo humano.
Produção de substâncias tóxicas
A
produção de substâncias tóxicas nos alimentos pode ocorrer de
diferentes maneiras, mas se dá especialmente quando os produtos são
submetidos a altas temperaturas2.
Algumas
das principais reações na formação de compostos tóxicos são a
hidrogenação de gorduras, a oxidação lipídica e a pirólise. Entre os
processamentos, destaca-se a defumação e entre os diversos produtos
formados, são relevantes as nitrosaminas, os peróxidos, os ácidos graxos
trans (AGT), os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP) e
as aminas heterocíclicas (AH). Cada substância apresenta toxicidade
característica, causando maior ou menor dano à saúde, dependendo da
dose, do tempo e da freqüência de exposição e das vias de absorção.
Entre
as doenças associadas às substâncias tóxicas formadas durante o
processamento de alimentos, destaca-se o câncer. As neoplasias malignas
têm seu desenvolvimento influenciado direta ou indiretamente pela
qualidade e tipo do alimento, assim como pelo emprego de métodos
inadequados de preparo e de conservação dos produtos alimentícios3.
Substâncias formadas a partir da degradação de lipídios
A degradação de óleos e gorduras pode ocorrer por oxidação,
hidrólise, polimerização, pirólise e absorção de odores e sabores
estranhos. Dentre essas possibilidades, a oxidação é a principal causa
de deterioração de lipídios, alterando várias propriedades do alimento,
como qualidade sensorial, valor nutricional, funcionalidade e
toxicidade, mudanças essas que podem ocorrer em várias etapas do
processamento, como produção e armazenamento4-5.
Mais de 400 compostos químicos diferentes já foram identificados em
óleos reutilizados. Os produtos de degradação costumam ser divididos em
voláteis e não-voláteis, os quais permanecem no alimento e causam as
alterações referidas anteriormente6-7.
A oxidação de lipídios, que ocorre quando o oxigênio é adicionado ou o
hidrogênio ou elétrons são removidos da molécula, tem sido arduamente
estudada devido à relação com a alteração de alimentos, com a produção
de diversas substâncias, assim como pelas várias reações com outros
constituintes dos alimentos. Sabe-se que essas reações podem ser
modificadas por muitos fatores, como a presença de metais, enzimas
(lipoxigenase, oxidases e lipases), antioxidantes, luz, pH, temperatura,
oxigênio e peróxidos8-10.
A velocidade de oxidação depende do grau de insaturação do ácido
graxo, ou seja, quanto maior o número de duplas ligações, maior a
suscetibilidade à reação. Um exemplo é o óleo de soja, cuja estabilidade
é menor que a da gordura de coco7,10,11.
A auto-oxidação lipídica é baseada em mecanismos que envolvem
radicais livres. Peróxidos são formados a partir da reação de ácidos
graxos insaturados e triglicerídios com o oxigênio e da conseqüente
formação dos radicais livres, em uma etapa denominada iniciação.
Posteriormente, o número de produtos gerados aumenta, assim como a
produção de aldeídos (etapa de propagação), responsáveis pelo odor
característico da rancificação. Ao final (etapa de terminação), os
substratos lipídicos tornam-se escassos, ocorrendo reações entre os
próprios radicais livres7. Outras substâncias que podem ser geradas
durante o processo de auto-oxidação são álcoois, ácidos, hidrocarbonetos
e cetonas4. A rancificação oxidativa é responsável, principalmente,
pelas alterações organolépticas dos produtos alimentícios10-12.
Os peróxidos não são prejudiciais ao organismo humano, e sim os seus
derivados. Uma das maneiras pelas quais os peróxidos podem ser formados é
por meio da ação da enzima lipoxigenase sobre os ácidos graxos
poliinsaturados linoléico e linolênico. A lipoxigenase é encontrada em
hortaliças, frutas e em alimentos de origem animal. Exemplos de grãos
ricos em lipoxigenases são soja, ervilha e algumas variedades de
feijão6,7. Íons metálicos como ferro, cobalto, cobre e molibdênio podem
atuar como catalisadores da decomposição dos peróxidos13.
No aquecimento excessivo das gorduras, como na fritura de alimentos,
formam-se produtos tóxicos ou cancerígenos, entre os quais acroleína e
peróxidos. Isso ocorre porque temperaturas elevadas aceleram os
processos oxidativos e de degradação dos lipídios. No processo de
fritura, três componentes são responsáveis pelas mudanças ocorridas na
estrutura dos lipídios: umidade do alimento (promove hidrólise dos
triglicerídios), contato do óleo ou gordura com o oxigênio (promove
alterações oxidativas) e alta temperatura do processo, de,
aproximadamente, 180ºC. Deve-se ter cuidado, portanto, com a produção de
alimentos fritos por imersão sem o controle da qualidade do óleo ou da
gordura vegetal nos estabelecimentos de alimentação coletiva14,15.
Desde 1997, a indústria de
fast food vem adotando métodos para
tentar controlar a qualidade e prolongar o tempo útil do óleo utilizado
para fritura de imersão. Entre as medidas, incluem-se o uso de filtros
ativos e passivos, antioxidantes e a própria manutenção dos equipamentos
de fritura. Essas alternativas até podem prolongar a vida útil do óleo,
contudo os produtos alimentícios absorvem igualmente grandes
quantidades de lipídios degradados durante o processo6.
A decomposição de óleos e gorduras é diminuída se o processo de
fritura for realizado com pequena quantidade de gordura, em panelas
altas e estreitas, diminuindo o contato com o oxigênio. Além disso, o
processo de rancificação pode ser diminuído se o óleo for guardado em
recipientes de vidro ou de plástico e não ficar exposto à luz15-17.
Deve-se também ter cuidado para que, durante os processos que utilizam
aquecimento, a temperatura do óleo vegetal não ultrapasse os 170ºC, já
que em temperaturas mais elevadas ocorrem a emissão de fumaça e o início
dos processos oxidativos. É importante retirar os resíduos alimentares
liberados durante a fritura, assim como certificar-se de que não haja
detergente ou materiais de limpeza no recipiente no qual o óleo será
aquecido6,18. No momento em que qualquer alteração for detectada no óleo
utilizado para fritura de imersão, o produto deverá ser descartado.
A desidratação de alimentos é um procedimento utilizado para impedir a
proliferação de microorganismos, no entanto níveis de umidade abaixo de
aw <0,1 tornam o produto suscetível à oxidação pela concentração de
metais e pela formação de radicais livres no processo de secagem10. O
processo utilizado para impedir a oxidação da gordura do leite integral
em pó, por exemplo, é envolver os glóbulos de gordura com uma camada de
lactose, impedindo o contato direto com o ar4,13.
Hur
et al.10 e Chung
et al.16 sugerem que a ingestão
dos compostos formados a partir da oxidação em lipídios possa causar
doença gástrica crônica e câncer. Outro ponto de grande relevância é que
a oxidação do colesterol é considerada arterogênica e carcinogênica,
aumentando o risco de desenvolvimento de dislipidemias e de doenças
cardiovasculares.
Ácidos graxos trans
Os ácidos graxos insaturados (AGI) apresentam uma ou mais duplas
ligações, podendo formar isômeros geométricos. Quando os hidrogênios
ligados ao carbono da insaturação estão do mesmo lado o ácido graxo é
denominado
cis, quando os hidrogênios estão em lados opostos é denominado
trans19-24.
Na natureza, os ácidos graxos geralmente estão na configuração
cis20. Quando os ácidos graxos
cis
ou os triglicerídios que os contêm são submetidos a processos
enzimáticos, oxidativos ou de hidrogenação, há a formação da
configuração
trans21-22. Os ácidos graxos
trans são
sólidos à temperatura ambiente, com ponto de fusão mais elevado, podendo
ser considerados intermediários entre os AGI e os ácidos graxos
saturados (AGS)23-24.
Os AGT sempre compuseram a dieta humana via ingestão de alimentos
provenientes de animais ruminantes, como leite e carne bovina, pois são
formados a partir de sistemas enzimáticos da flora microbiana, por meio
do processo denominado biohidrogenação. Atualmente, essas substâncias
encontram-se amplamente difundidas na dieta alimentar, como em
margarinas, óleos vegetais, produtos de confeitaria e panificação e
alimentos fritos. Os alimentos que contêm gordura parcialmente
hidrogenada contribuem com 80 a 90% da ingestão diária de AGT; já no
caso dos que contêm óleos refinados, a contribuição é entre 1 e 1,5%,
aumentando os níveis com a reutilização do óleo19,20,22-25.
Ovesen
et al. avaliaram o perfil de gorduras utilizadas por duas grandes redes de
fast food,
encontrando altas concentrações de AGT23. No entanto, há divergência
sobre a importância dos alimentos fritos como fonte de isômeros
trans26.
A hidrogenação é um processo de endurecimento pelo qual o hidrogênio
desfaz a insaturação e ocasiona a formação de AGT. O processo ocorre na
presença de um catalisador de níquel, tendo como objetivos reduzir o
grau de insaturação, para diminuir a velocidade de oxidação, e modificar
as características físicas, como textura e ponto de fusão12. Os óleos
vegetais são hidrogenados seletivamente, conservando o máximo de
quantidade de ácido oléico e linolênico, fazendo com que a solidificação
ocorra a temperaturas muito baixas, tornando-o praticamente inodoro e
insípido, além de poder ser aquecido a 180ºC. Nas margarinas, a
hidrogenação ocorre até que se alcance a cremosidade ou a dureza
desejada19,24-27.
Quanto mais sólida a gordura de origem vegetal após o processo de
hidrogenação, maior será a concentração de AGT. Estratégias como a
combinação de hidrogenação parcial e interesterificação química reduzem
significativamente a quantidade de AGT, sem alterar consideravelmente a
relação ácido graxo poliinsaturado (AGS). Já a interesterificação
enzimática tem permitido a produção de margarinas livres de isômeros
trans19,28.
Os ácidos graxos
trans, apesar de não possuírem efeito
cumulativo, podem ser encontrados em vários tecidos do organismo humano,
como, por exemplo, no tecido adiposo. Também passam de mãe para filho
por meio do leite e da placenta e interferem na conversão de ácidos
graxos essenciais a ácidos graxos poliinsaturados no organismo, sendo
responsáveis por reações alérgicas, como a asma em adolescentes24,29,30.
No princípio dos anos 1990, estudos demonstraram que o consumo de isômeros
trans altera
as concentrações séricas de lipídios, aumentando o lipoproteína de
baixa densidade (LDL colesterol) e diminuindo o lipoproteína de alta
densidade (HDL colesterol), sendo, por estes motivos, associado ao
aumento no risco de doença arterial coronariana (DAC)20,28. Além disso,
outros fatores relacionados ao consumo de AGT podem levar ao
desenvolvimento de DAC: aumento dos níveis de lipoproteína(a) e de
triglicerídios séricos; efeitos adversos no metabolismo de ácidos graxos
essenciais e no balanço das prostaglandinas (há inibição da enzima
delta-6-dessaturase), podendo levar à trombogênese (elevação dos
marcadores de inflamação e disfunção endotelial, favorecendo a formação
de placas ateroscleróticas). A morte súbita e a resistência à insulina
são outras conseqüências possíveis25-28,31,32.
Há controvérsias sobre as mudanças metabólicas ocasionadas pelos AGT
quando presentes em maior quantidade na nutrição humana23. O meio
acadêmico vem discutindo constantemente sobre as vantagens e
desvantagens da substituição de alimentos fontes de AGT pelos ricos em
AGS. Os AGS, embora ricos em colesterol, não trariam alterações no HDLc,
ao contrário dos
trans que diminuíram HDLc além de elevarem LDLc24.
Estudos em cobaias demonstraram que os AGT competem com os ácidos
graxos n-6 e n-3 nas reações de dessaturação e elongação, produzindo
eicosanóides sem atividade biológica. Os AGT também podem inibir as
enzimas β5 e β6 dessaturase, bloqueando o metabolismo de ácidos graxos
essenciais. Esses processos, durante a fase gestacional, podem alterar o
desenvolvimento intra-uterino pela inibição da síntese de ácido
araquidônico e docosahexaenóico (DHA)19.
O elevado consumo de alimentos ricos em AGT, além das implicações
nutricionais, leva à redução da ingestão de ácidos graxos essenciais,
como o ácido araquidônico (essencial para o crescimento e
desenvolvimento dos tecidos) e o DHA (importante para a função visual e
neural), favorecendo o desenvolvimento de síndromes causadas pela
deficiência destes ácidos graxos19,24,33.
A busca por alternativas para produzir gordura vegetal hidrogenada sem isômeros
trans demonstra
a preocupação com o consumo desse composto. O Brasil, contudo, ainda
não apresenta dados exatos sobre a ingestão de AGT, apesar de ser sabido
que a utilização de gordura hidrogenada é ampla e indiscriminada,
apontando, portanto, para um consumo elevado19.
Segundo Sanhueza
et al.33 o ácido linoléico conjugado ou vacênico (
trans
do linoléico formado a partir da biohidrogenação em ruminantes que se
alimentam de pasto) possui estrutura diferenciada, sendo apontado como
possível substância anti-câncer, anti-aterosclerose, anti-obesidade e
como modulador da imunidade. O tema ainda causa polêmica no meio
científico, e alguns autores levantam a hipótese de que animais
alimentados com pouca pastagem e com ração rica em sementes oleaginosas,
apesar do alto teor de lipídios insaturados, em vez de produzirem o
ácido vacênico produzem ácidos graxos
trans em níveis significativos, contaminando a carne, o leite e derivados destes20-25, 32-34.
Em um estudo de coorte realizado com mulheres saudáveis (n=80),
estimou-se que as substituições de 5% da energia proveniente dos ácidos
graxos saturados e 2% proveniente dos ácidos graxos
trans por ácidos graxos poliinsaturados podem reduzir o risco de doenças cardiovasculares para 42 e 53%, respectivamente35.
Em julho de 2003, a
Food and Drug Administration (FDA)
decretou que, a partir de 1º de janeiro de 2006, fabricantes de
alimentos e de suplementos deveriam passar a listar, separadamente dos
AGS, o conteúdo de AGT nos rótulos dos alimentos. Deste modo, atualmente
todo alimento contendo mais de 0,5g de ácidos graxos
trans
precisa especificar essa quantidade no rótulo36. No Brasil, o prazo para
a adequação dos rótulos terminou em 1º de julho de 2006, conforme
regulamentado pela RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003, aprovada pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)37.
Segundo a IV Diretriz Sobre Dislipidemias e Prevenção da
Aterosclerose, 2007 não há consenso em relação à quantidade máxima
permitida na dieta, no entanto, recomenda-se que a ingestão de gordura
trans deva fornecer menos do que 1% da energia total da dieta38.
Aminas heterocíclicas
As aminas heterocíclicas (AH) são substâncias indesejadas produzidas
durante a exposição de alimentos a altas temperaturas. Muitas AH são
formadas ao assar, fritar ou cozinhar alimentos por longo período,
principalmente os ricos em proteínas, como carnes e pescados39-41. As AH
ainda podem ser encontradas em resíduos de panelas e em extratos de
carne. Sua formação ocorre pela pirólise de certos aminoácidos, entre os
quais triptofano, lisina, ácido glutâmico e fenilalanina, ou pela
reação entre creatina (também denominada creatinina) e os produtos da
Reação de Maillard42.
Investigações sobre a presença de AH foram realizadas em carne de boi (assada e frita) e carne de pescado (assado, no forno e
a la parrilla) comercializadas na Espanha. Nas peças foram encontrados os seguintes mutágenos: 2-amino-3-metilimidazol (4,5-
f) quinolina (IQ), 2-amino-3,4-dimetilimidazol (4,5-
f) quinolina (MeIQ) e 2-amino-3,8-dimetilimidazol (4,5
f) quinoxalina (MelQx)9.
Balogh
et al.43 analisaram tortinhas de carne bovina moída
fritas em três temperaturas diferentes (175ºC, 200ºC e 225ºC) por 6 e 10
minutos de cada lado, a fim de que fossem determinadas as condições de
maior formação de aminas heterocíclicas. As maiores concentrações foram
geradas na fritura a 225ºC por 10 minutos/lado. Foram encontradas em
maior quantidade PhIP e MelQx. A vitamina E, quando usada na
concentração de 1% e adicionada diretamente sobre as tortinhas de carne
moída diminuiu as quantidades de AH, com médias de redução de 45 a 75%.
As AH encontram-se entre as substâncias mutagênicas conhecidas mais
potentes, causando tumores em animais de experimentação, principalmente
na bexiga44. As aminas heterocíclicas são metabolizadas pelo citocromo
P-450 dos microssomos hepáticos em mutágenos ativos, as
N-hidroxilaminas, as quais são convertidas em compostos capazes de se
unir à guanina, afetando a replicação e a transcrição do DNA42,45,46.
Atualmente vem sendo analisada a correlação entre a ingestão de AH e a
incidência de câncer de mama, cólon e próstata. Em animais, as aminas
heterocíclicas provocam neoplasias malignas em glândulas mamárias,
próstata, pulmão, cólon, pele, pâncreas, bexiga e fígado. Ainda há
evidências de que elas afetam o sistema vascular, as glândulas salivares
e de que levam à degeneração miocardial. Entretanto, é importante
salientar que cada organismo reage de maneira específica, tolerando
maiores ou menores doses desses compostos42-48.
Para diminuir a formação desses compostos, deve-se adicionar
antioxidantes naturais ou sintéticos durante a cocção, por estarem os
intermediários dos radicais livres envolvidos na reação. Tanto a
proteína de soja concentrada como a farinha da semente de algodão sem
gordura contêm compostos antioxidantes que reduzem a mutagenicidade de
AH na carne bovina cozida. Estatisticamente, a vitamina E e a essência
de alecrim também possuem efeito positivo na inibição do PhIP,
entretanto tratamento algum ou dose foram eficientes para inibir
totalmente a formação das aminas heterocíclicas. Também é possível
diminuir a produção das AHs no hambúrguer com a adição de cebola na
carne bovina triturada crua43,48,49.
No microondas, apesar das temperaturas elevadas, a mutagenicidade das
aminas heterocíclicas é reduzida pelo menor tempo de cocção. É
preferível, portanto, processar alimentos à base de carne no microondas
do que por meio de frituras ou cocção direta43. Não foram encontrados na
literatura valores de referência sobre o consumo diário tolerável de
aminas heterocíclicas em seres humanos. Mesmo assim, a correta
quantificação das aminas heterocíclicas nos alimentos preparados é
essencial para avaliar os riscos para seres humanos2.
Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos
Os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos são substâncias amplamente
distribuídas no ambiente, formados principalmente em processos de
combustão e pirólise de matérias orgânicas, como carvão e petróleo50,51,
constituindo um grupo considerado altamente carcinogênico ou
genotóxico52.
Além da pirólise, acredita-se que o processo de pirossíntese também
esteja envolvido na produção dos hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos. Na pirólise, em temperaturas elevadas, compostos orgânicos
são convertidos em moléculas pequenas não estáveis. Na pirossíntese,
essas e outras sustâncias são recombinadas e produzem moléculas maiores e
mais estáveis de HAP52.
São quatro as fontes principais de HAP em alimentos: fontes naturais
(como queimadas em florestas), poluição ambiental (contaminação de solo e
de água), materiais de embalagens e alguns tipos de processamento.
Entre os processamentos de alimentos em que ocorrem produção de HAP
incluem-se defumação, secagem direta com madeira ou carvão (churrasco e
parrillada, por exemplo) e torrefação50,53.
Durante o processo de assar a carne na brasa, a gordura é pirolisada
pela ação da chama direta na peça, assim como pelo calor do carvão,
gerando os HAP carcinogênicos. Os hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos, que passam a compor a fumaça gerada, são absorvidos e se
depositam na camada mais externa da carne. A concentração de HAP varia
de acordo com as quantidades de gordura e de fumaça, mas pode alcançar
valores de até 50ppm de benzo(a)pireno (BaP). Além do churrasco, essas
substâncias já foram encontradas em embutidos, hambúrgueres
, frango, peru, pescados,
bacon e cebola submetidos a este tipo de tratamento culinário9,51,52.
Em um estudo realizado por Kazerouni
et al.54 nos Estados
Unidos, os maiores níveis de benzo(a)pireno (acima de 4ng de BaP/g de
carne cozida) foram encontrados em carnes, hambúrguer e frango com pele
grelhados ou assados em altas temperaturas. Cereais e hortaliças também
podem ser fontes dietéticas de HAP, quando submetidos a processos de
desidratação51.
No processo de torrefação, um dos alimentos que se destaca pela
produção de HAP é o grão de café. Apesar de somente 20 a 30% dos
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos da quantidade presente no pó
passarem para a bebida, o modo de preparo pode aumentar a concentração
no líquido. Quando o pó de café é fervido juntamente com a água (hábito
ainda comum no Brasil), a quantidade de HAP é muito próxima à quantidade
existente no pó. No entanto, quando o café é coado por processo direto,
a liberação de HAP para a bebida diminui 5,5 vezes, se comparada ao pó
fervido com a água. Foi demonstrado também que, além do modo de preparo
facilitar a liberação de HAP para o café líquido, a cafeína aumenta a
solubilidade do B(a)P em água pela formação do complexo
benzo(a)pireno-cafeína, arrastando o B(a)P e demais HAP para a bebida. A
quantidade de cafeína no café fervido com a água é até 30% maior do que
no café coado diretamente. Portanto, a fervura facilita a passagem de
hidrocarbonetos para a bebida pela maior liberação de cafeína e pela
formação do complexo benzo(a)pireno-cafeína53.
Outra bebida amplamente consumida no Rio Grande do Sul que contém
grandes quantidades de HAP é o chimarrão. Isso se deve ao fato de que a
erva-mate (
Ilex paraguarensis) ainda é beneficiada rudimentarmente, com a etapa de sapecação das folhas feita com chama de combustão direta. Machado
et al.
encontraram no chimarrão níveis de até 0,22µg de B(a)P nos primeiros
250mL da bebida, valor excedente em 90 vezes o limite máximo permitido
para água pura pela legislação brasileira53.
Em relação à concentração de HAP, foi realizado um estudo sobre a
quantidade de hidro-carbonetos aromáticos policíclicos em margarinas,
cremes vegetais e em maioneses, por serem os óleos e as gorduras a
segunda fonte de HAP. Margarinas e cremes vegetais, apesar da pequena
quantidade de HAP, são considerados fontes importantes, devido à sua
ampla utilização na dieta. Em geral, produtos contendo óleo de milho
mostram em sua formulação maiores níveis de contaminação55. A
contaminação dos óleos vegetais se dá pela poluição do ar e pela
conseqüente deposição de partículas sobre as plantas oleaginosas, devido
ao fato de as plantas absorverem HAP em solos contaminados e pela
sapecação do grão em fumaça produzida pela queima de madeira.
Conclui-se, portanto, que a produção de HAP em alimentos contendo óleo
vegetal ocorre pela contaminação da matéria-prima, assim como durante o
processamento dos grãos56.
Em um experimento realizado para quantificar os valores existentes de
HAP em diversos grupos de alimentos, as maiores concentrações de
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos foram encontradas no grupo dos
açúcares e doces (chocolates, gelatinas e alcaçuz), destacando-se o
criseno (36µg/kg). Esse dado foi considerado surpreendente, já que até o
momento nenhum desses produtos era suspeito de conter altos níveis de
HAP57. No Brasil, análises realizadas em amostras de açúcares comerciais
indicaram a presença de HAP em concentrações que variam de 0,25 a
0,83µg/kg52.
O mecanismo de toxicidade dos HAP se dá pela formação de produtos
intermediários reativos, responsáveis pelos efeitos carcinogênicos58.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, dentro dos grupos de HAP, 13
compostos são claramente carcinogênicos e genotóxicos59. São
metabolizados pelas enzimas hepáticas em diol-epóxidos, ligando-se
covalentemente às macromoléculas celulares (incluindo o DNA) e causando
erros de replicação e mutações. Há evidências de que outras reações
intermediárias também são geradas por um processo de oxidação, o que
pode resultar em instabilidade química na alquilação do DNA, levando ao
processo mutagênico7.
Estudos epidemiológicos associam a exposição de misturas de HAP
contendo benzo(a)pireno ao risco aumentado de produzir câncer de pulmão e
outros tumores. Também foi observada maior freqüência de câncer de
estômago em populações que consomem tradicionalmente grandes quantidades
de produtos cárneos defumados54,58. A
World Cancer Research Fund desaconselha
a preparação de carnes a temperaturas elevadas ou expostas diretamente
ao fogo por aumentar o risco de câncer no estômago e no trato
gastrointestinal3.
Além disso, animais de experimentação expostos ao B(a)P por
diferentes vias de introdução e administração, incluindo a dieta por via
oral, têm desenvolvido papilomas e carcinomas gástricos60. Segundo o
Comitê Científico de Alimentação Humana da União Européia, são
considerados cancerígenos os seguintes HAP: benzo(a)antraceno,
benzo(b)fluoranteno, benzo(j)fluoranteno, benzo(k)fluoranteno,
benzo(g,h,i)perileno, benzo(a)pireno, criseno, ciclopenta(c,d)pireno,
dibenzo(a,h)antraceno, dibenzo(a,e)pireno, dibenzo(a,i)pireno,
dibenzo(a,l)pireno, ideno(1,2,3-cd) pireno e 5-metilcriseno61.
A necessidade de estabelecimento de limites para HAP em alimentos tem
sido manifestada por vários países, sendo este tema considerado
prioritário dentro do Comitê do C
odex Alimentarius para Aditivos
Alimentares e Contaminantes (CCFAC)62. O Brasil ainda não estabeleceu
tais valores máximos. Por outro lado, Alemanha, Áustria e Polônia
limitam em 1µg/kg o teor máximo de B(a)P em carnes defumadas, sendo esse
valor utilizado como referência para os demais alimentos55. O Comitê
Científico da Alimentação Humana da Comunidade Européia considera que,
sabendo-se do efeito genotóxico dos HAP, seus níveis nos gêneros
alimentícios devem ser tão reduzidos quanto razoavelmente possíveis.
Além disso, dadas as incertezas que ainda existem quanto aos níveis
aceitáveis de HAP nos alimentos, o Regulamento (CE) nº 466/2001 da
Comissão prevê uma revisão das medidas até primeiro de abril de 200761.
Muitos alimentos industrializados com sabor e aroma de defumados têm a
defumação direta substituída por líquidos com menor risco para a saúde
humana, mesmo que alguns preparados ainda contenham certa quantidade de
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos63. Além disso, o Comitê
Científico da Alimentação Humana indica a utilização de carvão ativado
para remover benzo(a)pireno durante a refinação de óleos61. É necessário
então que a indústria alimentícia e os Estados invistam em pesquisas e
novas tecnologias para diminuir a produção destas substâncias durante o
processamento de alimentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificou-se, durante a realização deste estudo, que a química de
alimentos e seus processos ainda são pouco conhecidos cientificamente.
Não se sabe se hábitos tidos como comuns durante a preparação de uma
refeição podem causar algum dano a quem a consome. Observou-se também
que, dependendo do alimento e do tipo de preparação, substâncias tóxicas
podem ser formadas, em níveis variados, assim como cada organismo
tolera maior ou menor ingestão, provocando ou agravando doenças.
Assim, é importante que o profissional nutricionista tenha
conhecimento sobre a produção de toxinas durante os vários processos
envolvendo alimentos, bem como que saiba em que níveis aquelas podem
afetar a saúde humana. É necessário, também, conhecer e propor técnicas
de processamento adequadas, visando à saúde do cliente e à manutenção
das propriedades nutricionais do alimento.
Muitos estudos ainda necessitam ser realizados nesse campo, tanto
pela dificuldade em confirmar suspeitas, como pela grande variedade de
alimentos e pelas diversas formas de prepará-los existentes.
COLABORAÇÃO
A.C. MARQUES participou na elaboração do projeto de pesquisa, na
coleta de referencial teórico, na discussão dos resultados e na
elaboração do artigo. T.B. VALENTE participou na coleta de referencial
teórico, na discussão dos resultados e na elaboração do artigo. C.S.
ROSA participou na elaboração do projeto de pesquisa e na elaboração do
artigo.
Estou aqui nesta - quinta feira públicando um artigo sobre a questão
da alimentação saudavél: Por dois motivos: O primeiro motivo e que acho
um assunto de extrema importância para os nossos dias. E o segundo
motivo e para te apresentar um negócio no qual você não precisa sair de
casa para aprender sobre esse negócio, basta ter um computador com
internet.
Quer conhecer esse negócio vá ao link abaixo de um simples click
veja um vídeo explicativo de como esse negócio que estou a trabalhar
funciona para que possa ter liberdade.
http://forms.aweber.com/form/19/82233519.htm
Ou me mande um e-mail para ormindo.bcosta@gmail.com ou me adicione no
skype ormindo.costa estou aqui para te ajudar a conhecer esse negócio
que vai mudar a sua vida, como um dia mudou a minha abraços te vejo lá
dentro.